Grupo C: Espanha 4-0 Irlanda
Jogo de sentido único no adeus irlandêsGdansk. A histórica cidade polaca, outrora Danzig, um dos muitos locais dados a conhecer à Humanidade a pretexto de uma das mais negras páginas da sua existência, implodiu hoje perante a magnificente profusão de cor e som proveniente das bancadas do seu principal recinto desportivo. Inútil será, de nossa parte, a demanda pela expressão ou conjunto de expressões capazes de gizar um retrato fiel do espectáculo protagonizado pelo décimo segundo jogador. Arrepiante, no mínimo.
Em contrapartida, afigura-se bem
mais fácil comentar aquilo que se passou dentro das quatro linhas. À semelhança
do que havia sucedido no passado Domingo, a equipa Irlandesa entrou logo a
perder. El Niño, o jogador dos Blues tão reiteradamente criticado (tanto por
adeptos como pela comunicação social), fez questão de relativizar a importância
da lesão de David Villa e de justificar a titularidade em detrimento de Cesc.
Aproveitando uma bola sem dono dentro da área, fugiu à marcação da defesa e
fuzilou um impotente Shay Given para o primeiro golo do encontro.
Vendo-se a perder, e sabendo perfeitamente
que uma derrota frente aos campeões em título significaria o adeus prematuro à
competição, esperar-se-ia uma tentativa de corrida atrás do prejuízo. A
Espanha, no seu estilo característico de posse de bola, não deu azo a qualquer
tipo de veleidades nesse sentido. Metaforicamente falando, diríamos que área de
Given apresentava algumas semelhanças com o nosso litoral: elevados índices de
densidade populacional durante os noventa minutos, por oposição a um interior
quase em abandono; noventa minutos nos quais a roja deu um autêntico “banho de bola” perante uma linha defensiva
que ruía com a facilidade de um castelo de areia. Se frente à Croácia o recurso
a entradas à margem das regras representava o freio necessário para acalentar a
discussão a meio campo, hoje nem nesse capítulo Whelan e Andrews lograram ser
bem sucedidos. Iniesta e Silva (fabuloso) pareciam não perder um duelo, Xavi
não falhou um passe e Torres, muito voluntarioso, tanto surgia na zona de
finalização como a servir os seus companheiros de manobra ofensiva.
O futebol dos comandados de
Trapattoni pecava pela excessiva previsibilidade nos raros – raríssimos –
momentos em que conseguiam emergir do seu reduto com a bola controlada. A
margem mínima ao intervalo acabava por ser um prémio algo imerecido para a
Irlanda. Após o recomeço, mais do mesmo. Arbeloa ameaçou, mas foi Silva quem
ampliou para 2-0, com uma finalização soberba, plena de classe e sem hipóteses
de defesa. Aos 56’, aplauso para aquela que foi, até ao momento, a defesa mais
espectacular de todo o Euro 2012: estirada inacreditável de Given a remate
potentíssimo a escassos metros da baliza, com a “agravante” de o esférico ter
passado entre as pernas de St. Ledger.

Cada um joga com as armas que tem
e dá espectáculo como pode. Dentro ou fora de campo. Os adeptos irlandeses
deram hoje uma prova de que o futebol (latu sensu) foi criado para ser belo,
ímpar, cantando ininterrupta e audivelmente apesar do destino da sua equipa
estar já traçado de forma irreparável. Os jogadores espanhóis mostraram a
superioridade prevista, dizendo “presente” na chamada dos favoritos ao troféu.
Mas não esqueçamos que na próxima segunda defrontarão uma Croácia feita de
outro material e de aspirações perfeitamente intactas.
Espanha: Casillas, Alba, Piqué,
Sergio Ramos, Arbeloa, Xabi Alonso (Javi Martinez), Xavi, Busquets, Iniesta
(Cazorla), Silva, Torres (Fàbregas)
Irlanda: Given, Ward, Dunne, St. Ledger,
O’Shea, Andrews, Whelan (Green), Duff (McClean), McGeady, Cox (Walters), Keane.
Golos: 1-0: Torres, 4’ / 2-0: Silva, 49’ / 3-0:
Torres, 70’ / 4-0: Fàbregas, 83’
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