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quinta-feira, 14 de junho de 2012

Grupo C: Espanha 4-0 Irlanda

Jogo de sentido único no adeus irlandês



Gdansk. A histórica cidade polaca, outrora Danzig, um dos muitos locais dados a conhecer à Humanidade a pretexto de uma das mais negras páginas da sua existência, implodiu hoje perante a magnificente profusão de cor e som proveniente das bancadas do seu principal recinto desportivo. Inútil será, de nossa parte, a demanda pela expressão ou conjunto de expressões capazes de gizar um retrato fiel do espectáculo protagonizado pelo décimo segundo jogador. Arrepiante, no mínimo.
Em contrapartida, afigura-se bem mais fácil comentar aquilo que se passou dentro das quatro linhas. À semelhança do que havia sucedido no passado Domingo, a equipa Irlandesa entrou logo a perder. El Niño, o jogador dos Blues tão reiteradamente criticado (tanto por adeptos como pela comunicação social), fez questão de relativizar a importância da lesão de David Villa e de justificar a titularidade em detrimento de Cesc. Aproveitando uma bola sem dono dentro da área, fugiu à marcação da defesa e fuzilou um impotente Shay Given para o primeiro golo do encontro.
Vendo-se a perder, e sabendo perfeitamente que uma derrota frente aos campeões em título significaria o adeus prematuro à competição, esperar-se-ia uma tentativa de corrida atrás do prejuízo. A Espanha, no seu estilo característico de posse de bola, não deu azo a qualquer tipo de veleidades nesse sentido. Metaforicamente falando, diríamos que área de Given apresentava algumas semelhanças com o nosso litoral: elevados índices de densidade populacional durante os noventa minutos, por oposição a um interior quase em abandono; noventa minutos nos quais a roja deu um autêntico “banho de bola” perante uma linha defensiva que ruía com a facilidade de um castelo de areia. Se frente à Croácia o recurso a entradas à margem das regras representava o freio necessário para acalentar a discussão a meio campo, hoje nem nesse capítulo Whelan e Andrews lograram ser bem sucedidos. Iniesta e Silva (fabuloso) pareciam não perder um duelo, Xavi não falhou um passe e Torres, muito voluntarioso, tanto surgia na zona de finalização como a servir os seus companheiros de manobra ofensiva.
O futebol dos comandados de Trapattoni pecava pela excessiva previsibilidade nos raros – raríssimos – momentos em que conseguiam emergir do seu reduto com a bola controlada. A margem mínima ao intervalo acabava por ser um prémio algo imerecido para a Irlanda. Após o recomeço, mais do mesmo. Arbeloa ameaçou, mas foi Silva quem ampliou para 2-0, com uma finalização soberba, plena de classe e sem hipóteses de defesa. Aos 56’, aplauso para aquela que foi, até ao momento, a defesa mais espectacular de todo o Euro 2012: estirada inacreditável de Given a remate potentíssimo a escassos metros da baliza, com a “agravante” de o esférico ter passado entre as pernas de St. Ledger.
A selecção espanhola parecia, na casa dos sessenta minutos, abrandar a intensidade. No entanto, o melhor que os insulares conseguiram fazer foi um cruzamento em que Casillas (que, afinal, também lá estava no relvado) se ia desentendendo com Sergio Ramos. Ainda assim, e sem acelerar, não foi preciso esperar muito pelo terceiro golo. Isolado de forma magnífica por Silva, Fernando Torres voltou a facturar com toda a calma do mundo, aos 70’. Robbie Keane, cinco minutos depois, teve nos pés a chance para apontar o tento de honra, negado pelo portero do Real; os deuses, claramente, não quiseram nada com a Irlanda nestas duas partidas do grupo C. Haveria de ser Cesc Fabregas, recém entrado, a marcar o seu segundo golo em solo polaco, no seguimento de um canto rasteiro. Excelente finalização, diga-se.
Cada um joga com as armas que tem e dá espectáculo como pode. Dentro ou fora de campo. Os adeptos irlandeses deram hoje uma prova de que o futebol (latu sensu) foi criado para ser belo, ímpar, cantando ininterrupta e audivelmente apesar do destino da sua equipa estar já traçado de forma irreparável. Os jogadores espanhóis mostraram a superioridade prevista, dizendo “presente” na chamada dos favoritos ao troféu. Mas não esqueçamos que na próxima segunda defrontarão uma Croácia feita de outro material e de aspirações perfeitamente intactas.
Espanha: Casillas, Alba, Piqué, Sergio Ramos, Arbeloa, Xabi Alonso (Javi Martinez), Xavi, Busquets, Iniesta (Cazorla), Silva, Torres (Fàbregas)
Irlanda: Given, Ward, Dunne, St. Ledger, O’Shea, Andrews, Whelan (Green), Duff (McClean), McGeady, Cox (Walters), Keane.
Golos: 1-0: Torres, 4’ / 2-0: Silva, 49’ / 3-0: Torres, 70’ / 4-0: Fàbregas, 83’

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