Meias Finais: Portugal 0-0 Espanha (2-4 após grandes penalidades)
Estrela de campeão e fado lusitano não cabem na mesma frase
Tinha tudo para ser o nosso ano de glória. Havia coração, união, abnegação, talento, estrelas que faziam brilhar as demais porventura menos cintilantes, figuras porventura menos cintilantes que vestiram o fato de macaco para no Domingo envergarem orgulhosamente o fato de gala. Havia Patrício, Beto, Eduardo, Coentrão, Ricardo Costa, Bruno Alves, Rolando, João Pereira, Miguel Lopes, Pepe, Veloso, Custódio, Viana, Meireles, Moutinho, Micael, Quaresma, Nani, Varela, Ronaldo, Hugo Almeida, Postiga e Nelson Oliveira. Havia um homem no banco, com nome de sumo sacerdote, que comandou a equipa e com ela as nossas preces. Fé, muita fé. Sobrou o desalento de um sonho eternamente adiado, etéreo, esfumado no eco gerado por uma bola a embater violentamente no limite superior do reduto protegido um tal de “San Iker”.
O jogo propriamente dito, todos nós o vimos. Escaldada pela pálida imagem daqueles que, debalde, procuraram estancar a fluidez exasperante do estilo de jogo espanhol com autocarros, muralhas e correntes, Portugal manteve-se fiel ao seu esquema habitual e, cerrando os dentes ao invés das fileiras, adoptou uma filosofia positiva, procurando servir preferencialmente pelas alas a sua referência de área, Hugo Almeida. Se a selecção das quinas não repetia o onze apresentado em todos os encontros anteriores (devido à lesão de Hélder Postiga), do lado espanhol Vicente del Bosque optou também por lançar no vértice ofensivo Negredo, naquela que foi a única surpresa a alinhar de início. Nem Torres, nem Fàbregas, portanto. Contudo, cedo se compreendeu que Pepe e Bruno Alves – intratáveis durante os 120’ - não iam permitir grandes (nem pequenas) veleidades ao delantero.
O primeiro aviso foi deixado por Miguel Veloso, que num pontapé de canto puxado para a baliza ia surpreendendo Casillas. Portugal evidenciava discernimento com entrega q.b. e a roja sentia algumas dificuldades em assumir as despesas da partida, errando mais passes do que o habitual. David Silva não realizou propriamente uma exibição brilhante, acabando substituído na segunda metade por um elemento mais desequilibrador, Jesus Navas, e mesmo Xavi acabou por ser rendido por Pedro Rodriguez. Duas escolhas que acabariam por se revelar acertadas, especialmente pela velocidade que os suplentes de luxo foram capazes de imprimir, gradualmente, dando uma maior preponderância à turma espanhola no rumo dos acontecimentos. Não obstante o melhor período português ter coincidido com a primeira parte, foi para a Espanha que surgiram as melhores chances para inaugurar o marcador, por intermédio de Arbeloa e de Iniesta. Ronaldo, perto do descanso, ainda esteve perto de quebrar o nulo; remate à entrada da área a passar bem perto do poste.
Na segunda metade passou a acercar-se mais o jogo das redes de Rui Patrício. A linha defensiva portuguesa viu-se condicionada pela circunstância de todos os seus elementos terem sido já admoestados pelo juiz turco, cujo critério disciplinar deixou – no mínimo – um pouco a desejar. Xabi Alonso, a título de exemplo, aparentava ter carta de alforria face à jurisdição da equipa de arbitragem, travando à margem das regras os seus oponentes sem que o seu cadastro ficasse pintado de amarelo, algo que viria a suceder muito tardiamente. Curiosamente, e sem prejuízo de um ou outro calafrio na área portuguesa, a melhor ocasião pertenceria a Portugal pelos pés do seu capitão, perto do final do tempo regulamentar, numa jogada de (quase) perfeito contra-ataque. Veio o prolongamento e, aí, há que reconhecer a superioridade da armada espanhola. A posse de bola destes voltava à “normalidade” e era agora Portugal a ver jogar. O desgaste de Moutinho (excelente exibição, em especial no aspecto defensivo) e a saída do amarelado Veloso (dos melhores elementos) permitiam um “tiki taka” a oscilar, a espaços, entre o acutilante e o asfixiante. Iniesta, na primeira parte do prolongamento, só não resolveu a questão porque Rui Patrício foi todo ele reflexos e talento para dizer que, a cair, não seria em bola corrida.
Não foi em bola corrida, foi da marca dos onze metros. Quanto o guardião do Sporting travou o primeiro penalty de Xabi Alonso, este “pequeno anexo” da Península Ibérica acreditou que os alinhamentos, sejam eles quais forem, a que chamamos destino estaria – finalmente – do seu lado. Triste fado, haveria a precisão milimétrica que separa a sorte do azar, o vencedor do vencido, a impor, unilateralmente e sem direito a recurso, que a barra de Bruno Alves e que o poste de Fàbregas, por uma mera questão vectorial, consumaria a terceira final para os habituais e a profunda tristeza para os do costume.
Estrela de campeão, dizem do outro lado da fronteira.
Nós por cá, vimo-nos forçados a descer à terra. Como diria Chico Buarque, “Mas
para meu desencanto, o que era doce acabou. Tudo tomou seu lugar depois que a
banda passou. E cada qual no seu canto, em cada canto uma dor”. E que dor,
quando tinha tudo para ser a nossa hora. Não foi.
PORTUGAL: Rui Patrício, Coentrão, João Pereira, Pepe, Bruno Alves, Veloso (Custódio), Raúl Meireles (Varela), Moutinho, Ronaldo, Nani e Hugo Almeida (Nélson Oliveira)
ESPANHA: Casillas, Alba, Arbeloa, Piqué, Ramos, Busquets, Xavi (Pedro), Xabi Alonso, Iniesta, Silva (Navas) e Negredo (Fàbregas)
3 comentários:
Mais do que a derrota em si, o que mais custa quando tenho presente este afastamento da prova é a dúvida quanto a algum dia virmos a ganhar alguma coisa. Oportunidades como aquelas de que dispusemos ao longo dos últimos doze anos dificilmente se repetirão, pelo menos com a esta frequência. Vem me à cabeça a Bélgica ou a Polónia dos anos 80, selecções que à data impunham o seu respeito e que, agora, passam completamente ao lado do foco das decisões. Quando lá chegam...
28 de junho de 2012 às 15:52É certo que daqui a dois anos o mais certo é o nosso onze actual ainda conseguir dar resposta, com um ou outro ajuste desencantado de alguma parte. Vamos andando e vamos vendo. Temos é de arranjar maneira de reforçar convenientemente a nossa posição nove. Até a imprensa internacional destaca a anormal fertilidade das escolas de formação portuguesas no que se refere a extremos de classe mundial, aludindo com alguma surpresa à constante falta de um serial killer entre os centrais adversários.
Primeiro, levantar a cabeça. Depois, garantir a qualificação para o Brasil. Por fim, voltar a sonhar
Fomos ao máximo que podiamos.
28 de junho de 2012 às 16:34É certo de que perdemos na lotaria dos penaltis...sim, mas uma equipa que psicologicamente foi derretido por um mordomo do Platini, dificilmente teria condições capazes de reagir em situações de desvantagem.
Tivemos um penalti a favor, contra ataques parados de forma demasiado estranha, pontaria certeira nos amarelos aos nossos jogadores mais interventivos, jogadores que "apanharam porrada" o jogo todo, adversário que apenas à 9ª falta (!!!) levam amarelo, adversários com entradas de vermelho e nada...nada...como sempre!
Situações demasiado estranhas para uma competição deste calibre.
11 vs 11 a vitória era nossa.
Parabéns aos nossos campeões, os verdadeiros campeões! Orgulho na coragem e sacrificio que todos demonstraram.
Parabéns ao Polvo.
Não somos chorões, levantamos a cabeça e seguimos em frente.
Brasil 2014.
(Força Itália.)
"Haverá um português a torcer pela Itália, esta quinta-feira à noite. É o árbitro Pedro Proença que, se os italianos baterem os alemães na meia-final do Euro 2012 vai apitar a final da prova.
28 de junho de 2012 às 18:46O inglês Howard Webb foi nomeado pela UEFA para ser o quarto árbitro do Itália x Alemanha, enquanto o italiano Nicola Rizzoli, por questões óbvias, não poderia apitar o encontro entre Espanha e Itália."
Fonte: zerozero
Nada mais há a acrescentar.
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